quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Domain Entrevista... Henrique Amigo




Por André Dembitzky
Sabe aquele cara que a grande maioria dos jogadores profissionais, organizadores e já experientes lojistas comentam sobre? Aquele que trabalha na Devir e sempre alguém aponta como o cara que você tem que falar para resolver o seu problema? Seu nome que aparece errado no programa DCIReporter (o que cria os campeonatos), o campeonato que você participou e que ainda não caiu no Ranking mundial, os cards promocionais de Friday Night Magic que não chegaram, o pedido de um pré lançamento, o número de sancionamento... UFA!!!
Sim tudo isso, Henrique Amigo é o nome do cara que tem sob sua responsabilidade a grande parte das "pequenas" coisas que são tão importantes para que o seu tempo em um evento de Magic ou Pokemon seja perfeito.
A Domain conversou com ele, e descobriu que mesmo com essa cara de mau, ele é um dos caras mais tranquilos de se conversar e que tem muito a ensinar a quem se dispuser a aprender como trabalhar com eventos no país.

Domain Entrevista: Qual é exatamente a sua função na Devir?

Henrique Amigo: Eu atuo como Organized Play no Brasil para os jogos em que a Wizards tem propriedade e da Pokémon Company. No geral, o OP é a pessoa responsável por toda a estrutura de eventos de um determinado produto, cuidando desde a manutenção e desenvolvimento dessa estrutura até dos novos programas de eventos junto com o organizadores locais.
Há também uma série de outras coisas envolvidas nessa função, como por exemplo, ser o elo entre a
Wizards/Pokémon e as lojas/jogadores; resolver problemas que surgem e ajudar para que as informações sejam repassadas, mas “básicamente” é isso.

DE: Você poderia definir o que é ser um Organizer (organizador de eventos) e quais os objetivos de um?

Henrique: Eu costumo dizer que os eventos são como um show e nesse caso o Organizer, também conhecido mais como TO (Tournament Organizer), seria o produtor. O TO é responsável por toda a preparação desse show antes de ele começar até o seu término, e também é responsável pelos jogadores. Com certeza ele é a peça fundamental para que um evento aconteça.

DE: Hoje qual é a maior dificuldade, em sua opinião, para o surgimento de novas lojas ou associações e Magic: the Gathering? Quais são os maiores desafios para quem quer se tornar um organizador de eventos no Brasil?

Henrique: Hum, acredito que seja uma combinação de locais para jogar com vontade e tempo de organizar torneios. Hoje em dia nunca foi tão fácil organizar um evento e com o WPN* todos agora realmente podem ser organizadores. Isso abriu para lojas e associações uma grande quantidade de possibilidades para ter seus eventos sancionados.
Hoje se você tem um grupo de amigos e quiser sancionar o torneio na praça da cidade é possível e muito mais fácil e ágil do que antigamente. Muitas associações de cards e RPG foram criadas recentemente por conta disso. Aliás, as Associações são uma criação tupiniquim, uma resposta dos jogadores com vontade de fazer acontecer para a falta de lojas que organizassem torneios nas cidades. Hoje, se um grupo de jogadores tiver vontade e organização, podem ser tornar grandes grupos de jogo.

*(Wizards Play Network; uma rede integrada de informações, programas e suporte para a realização de eventos dos mais diversos de jogos.)

DE: Como esses problemas podem ser contornados?

Henrique: Entrar do nada como um organizador muitas vezes pode ser confuso então, eu Henrique estou sempre à disposição para pegar o organizador pela mão e mostrar o caminho para ele, até que ele possa fazer os torneios sozinhos. Para motivar os pequenos grupos em lugares que nunca tiveram torneios como muitas cidades do interior do Brasil, são enviados alguns cards promocionais para serem distribuídos aos participantes nos primeiros eventos, assim esses participantes são motivados a continuar até engrenar o agendamento de eventos como os FNM que tem seus próprios cards promocionais.

DE: Em seu “currículo” de eventos podemos encontrar diversos nacionais, Grand Prix, Pro Tours e Mundiais. Você acredita que teria tido interesse em participar desses eventos mesmo que não fosse o coordenador de Magic para o Brasil? Por quê?

Henrique: A grande parte desses eventos marca a história do Magic ao longo dos anos e fazer parte dessa história é algo muito gratificante para mim mesmo que eu não fosse responsável pela estrutura brasileira. Antes mesmo de trabalhar com Magic eu me voluntariei para ajudar como interprete do Ron Spencer (que sou muito fã) no GP Rio de 2001 apenas para estar lá, fazendo parte de tudo aquilo e claro pegar vários autógrafos do Ron. Eu lembro que contrariei meu gerente na época que não queria me dar os dias, mas eu fui mesmo assim e valeu muito apena. Ouvi várias histórias incríveis dele e ainda ganhei um desenho exclusivo no final do evento.
Esses grandes eventos são grandes festas históricas do Magic e seja como jogador, como organizador, juiz ou apenas espectador é bem legal fazer parte dessa história.

DE: Ser juiz é gratificante economicamente, devido aos cards e boosters recebidos em eventos de relativo tamanho, mas ser um organizador muitas vezes não “vale à pena”. Então por que ser um organizador? Por que estar atrás das cortinas fazendo o evento ocorrer?

Henrique: Da mesma forma que apitar eventos vai te trazer eventualmente algum retorno em algum evento grande enquanto outros eventos pequenos você vai trabalhar apenas por gostar de ser juiz, como organizador pode acontecer à mesma coisa. Para as lojas, organizar torneios sempre traz retorno se não em forma de dinheiro traz em marketing ou em fidelização de jogadores. Nos torneios grandes esse retorno financeiro é bem mais visível para as lojas, mas para organizadores independentes e associações que trabalham a maior parte do calendário com torneios regulares e FNM, o retorno pode ser apenas a gratificação de ter organizado um evento para o pessoal.
Eu gosto de estar atrás das cortinas por querer fazer os eventos acontecerem para os jogadores, se não no Magic, em outros jogos que eu curto estar envolvido, mas também sempre bate aquela vontade de jogar de vez em quando ao invés de organizar.

DE: Se você não trabalhasse com Magic, ou mais precisamente com a Devir, o que você acreditaria estar fazendo?

Henrique: Acho que estaria num banco ou em algum outro trabalho em algum escritório. Gosto da dinâmica e logística que muitas funções burocráticas e operacionais têm.

DE: É notório que a Devir tem enfrentado alguns problemas com relação à distribuição dos produtos. Você acha que o Magic estaria melhor na mão de vários distribuidores, ao invés de apenas um? Por quê?

Henrique: Trabalhar com card game no Brasil está cada vez mais difícil e não apenas a Devir tem enfrentado esses problemas, mas muitas lojas e distribuidores que também trabalham com esse tipo de produto importado acabam se deparando com o mesmo problema ou problemas semelhantes. Não acredito que a resolução seja ter um ou vários distribuidores de Magic, pois sendo um ou vários, todos passariam pelo mesmo problema. Outros grandes mercados como o Japão, por exemplo, tem apenas um distribuidor enquanto outros têm vários e, acredito eu, que depende mais da estratégia da própria Wizards para cada mercado. O que eu gostaria mesmo de ver era mais distribuidores de outros card games.

Muitas outras editoras já tentaram algo no mercado como a própria Abril com o Spellfire e a Comics com MagiNation e todas desistiram do segmento ou fecharam suas portas. No começo desse problema de importação a própria distribuidora do Yu-gi-oh! encerrou a distribuição por aqui e hoje em dia ela é da Devir justamente pelo nosso comprometimento e anos de trabalho com o mercado.

Da mesma forma que vem acontecendo com o RPG, com editoras como a Jambô que estão investimento no mercado editorial, com novas linhas, eu acho que daria uma grande força para o mercado de card games no geral se outras editoras investissem em outros card games que estão por ai vendendo bem lá fora. Com um mercado mais forte, mais títulos circulando e mais representantes do segmento, acho que uma resolução para os problemas atuais seria mais fácil.

DE: Se fossem fazer um filme de sua vida, que ator você acha que melhor representaria o Henrique?

Henrique: Nossa, eu que achei que a pergunta sobre distribuição seria a mais difícil:P. Acho que seria um filme estrelado e dirigido por M. Night Shyamalan.

DE: Além de Magic que outro card game você curte?

Henrique: Eu sempre curti card games e mesmo trabalhando diretamente com o Magic sempre que posso tento dar uma testada outros tíitulos. Há muitos card games bons por aí, cada um com coisas diferentes e bem legais como Battletech e a mecânica de construção de ser o primeiro a ter o baralho como seus pontos de vida. Duelmaster e o fantástico recurso contra “mana zica” mas que precisa de uma grande estratégia na hora jogar os cards certos para não deixar de aproveitar cada faceta, e até Naruto que aprendi a jogar recentemente num evento e que apesar de ser um joguinho bem básico tem uma forte estratégia de montagem de baralhos que muitos card games aclamados não tem.
Para citar outros muito bons têm o Warlord, Deadlands, Rage e Star Wars, mas desse último seria a versão criada pela Wizards após o lançamento do capitulo I do Star Wars, não a antiga versão que era meio estranha.

Mas o meu preferido é o Legends of Five Rings. É um card game meio complicado, mas que remonta a um cenário baseado no Japão feudal com ninjas, samurais e afins e que foca na história, tanto o é que a evolução do card game é baseada nos resultados dos campeonatos que ocorrem no ano anterior ao lançamento de uma coleção. No Legends se você ganhar um campeonato importante você pode escolher matar um personagem chave de um clã inimigo ou escolher um samurai que você goste muito para se tornar imperador, por exemplo. Isso cria um conceito muito forte de comunidade em torno de um card game cheio de qualidades.

DE: Qual último evento de jogos que você participou competitivamente e casualmente?

Henrique: Nossa, faz muito tempo. Competitivamente joguei apenas três torneios, todos em 2001. Dois Extended no salão da Devir que ganhei, diga-se de passagem, e um Classificatório para o Nacional de 2001 que terminei em 25º de um total de 27 jogadores.
Agora casualmente eu sempre tento jogar um pouquinho quando dá, e antes dava pra jogar mais, mas hoje nas vezes que sobra um tempinho após as 19h eu e o Luis tiramos uma partidinha de Magic para descontrair.


DE: Um dos maiores pontos de encontro dos jogadores são os fóruns e o MOL (Magic On-line). Você participar desses pontos? Você joga no MOL? Pode revelar o seu nick?

Henrique: Não participo dos fóruns postando e tudo mais, mas sempre que dá dou uma lida nos fóruns mais relevantes. Acho super importante saber o que os jogadores e organizadores pensam e por isso tento sempre ler os posts de reports dos campeonatos para saber o que anda acontecendo e como as lojas estão organizando seus torneios.
Agora no MOL? Eu jogo bem casualmente no MOL, às vezes uns drafts e pré-lançamentos das coleções novas. Estou lá em geral na sala de casual play com o nick Doji Henry.


DE: Como organizador de grandes eventos qual é o grande desafio para que esses eventos não “desandem”? Qual é o grande “empecilho” que está sempre presente nos eventos maiores e que até hoje não tem muito uma solução?

Henrique: O maior desafio de todos é gerenciar uma grande quantidade de pessoas juntamente com os problemas de um evento e ainda manter esse evento acontecendo. Apesar dos grandes eventos estarem sujeitos aos mesmos problemas que qualquer evento pequeno tem, qualquer coisinha que num evento de menor porte seria facilmente contornável num evento grande se torna um problemão. Coisas que você normalmente não encanaria como, por exemplo, fazer um backup de uma rodada num FNM de oito pessoas, se torna praticamente uma obrigação num evento como um Nacional.
Para um evento dar certo é preciso ter uma boa equipe por trás do evento e com uma boa estrutura qualquer evento vai bem.


Um empecilho? Na verdade são dois: equipe e recursos. Os eventos grandes como Nacionais, PTs e GPs requerem uma preparação de meses de antecedência e pensar em todos os detalhes, além de preparar tudo para o evento se torna algo bem difícil com uma equipe de poucas pessoas. Recursos também são um fator chave, já que muito de um evento é o brilho que ele deve ter com coisas legais e interessantes voltadas para os jogadores, e essas coisas muitas vezes são limitadas pelo orçamento do evento.

DE: Como organizador e coordenador de Magic no Brasil você tem acesso a inúmeras informações privilegiadas antes de elas virem à público, correto? Como você lida com isso entre seus amigos? Alguma coisa escapa? Você os deixa curiosos sobre o que você sabe?

Henrique: Não tem jeito, é preciso saber se controlar. Muitas das informações são protegidas por contratos de sigilo até que sejam oficialmente divulgadas e mesmo para os amigos não dá pra sair comentando. Sorte que na editora tem o pessoal que também curte Magic e dá sempre pra dar aquela comentada tipo “putz! *** volta na próxima coleção”. Mas como meus amigos mais próximos no Magic são juízes e organizadores os comentários sobre as novidades giram sobre mudanças nos eventos ou no jogo mais do que um spoiler sobre a nova coleção.

DE: Você pode nos contar alguma “novidade” sobre Zendikar? Algum “segredinho” que ficará apenas entre nós e nossos leitores?

Henrique: Trabalhamos sempre uma coleção a frente da anunciada, por exemplo agora está saindo Zendikar e já estamos revisando as embalagens de Despertar do Mundo então não lembro tanta coisa assim de Zendikar. O que eu posso dizer é que como Ravnica, ou até mais, Zendikar é uma das coleções mais ricas em flavour de Magic já lançada, com cards muito legais, novidades na medida certa e um show a parte da equipe de arte da Wizards.

DE: Obrigado pela entrevista e boa sorte realizando mais e mais eventos!!

Henrique: Obrigado digo eu por essa oportunidade de participar dessa brilhante idéia e espero que os leitores tenham curtido também tanto quanto eu curti participar da entrevista.

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